Paraguaçuense encerra profissão pilotando maior aeronave do mundo

De família humilde ao cargo de piloto de aeronave da Latam, o paraguaçuense contou como foi o seu percurso profissional.

Paraguaçuense encerra profissão pilotando maior aeronave do mundo — Foto: Arquivo Pessoal

PARAGUAÇU PAULISTA-SP — Há poucos dias, o paraguaçuense José Gilberto Nogueira Miguel se aposentou encerrando com chave de ouro, pilotando a maior aeronave do mundo, um Boeing 77-300 ER, com capacidade para 500 passageiros. Agora, ele retornou para a sua terra natal e contou ao i7notícias um pouco desta sua bela trajetória profissional.

José Gilberto se recorda que a paixão por aviões iniciou ainda na sua infância, quando ele brincava, mesmo sem brinquedos, que era piloto de avião. “Desde criança eu tive uma curiosidade e vontade de voar. Tudo que voava eu gostava. Como os meus pais não tinham dinheiro e eu não tinha aviões em miniatura, eu fazia o movimento do avião com as mãos.”

Anos após, com a sua primeira experiência como passageiro de avião, ele teve a certeza de que ele queria ser piloto de aeronave. “Um dia eu tive a oportunidade de voar, aqui no campo de avião de Paraguaçu Paulista, com o instrutor Aluízio, que me chamou para fazer um vôo, que foi emocionante, coisa de doido. A partir desse dia parece que enraizou”, completou.

A sua formação como piloto de aeronave iniciou no aeroclube de Marília, onde morou na casa da sua tia. Após a formação teórica, ele se deparou com uma grande dificuldade, a falta de dinheiro para realizar as aulas práticas. Mas o problema foi solucionado após ele conversar com uma pessoa que o contratou. O pagamento pelo seu trabalho semanal era o valor para pagar duas horas de vôo por semana e a sua alimentação.

“Aí entra um grande cara, já falecido, que eu cheguei nele e falei: ‘Você sabe o quanto o meu pai ganha, e ele não tenho condições de pagar o brevê, e eu preciso pagar’. Ele me disse: ‘Você quer ser piloto? Faz o seguinte, eu vou pagar para você duas horas de vôo por semana e você vai trabalhar para mim aqui em Conceição na Discoteca Emanuelle’. Eu trabalhava aqui em Conceição e quando chegava no domingo ele me dava o dinheiro para pagar as duas horas de vôo e para eu comer. Este cara é o Onório. Eu até me emociono”, contou emocionado.

O paraguaçuense disse que fez as suas 40 horas de vôo e estudou muito. “Tem até um amigo nosso, o Dorinho, que falava que eles sempre me chamavam para sair no fim de semana, mas eu não ia para poder estudar e hoje ele vê a recompensa.”

José Gilberto contou como foi contratado para o seu primeiro emprego na área da viação, como instrutor teórico. “Um dia eu estava no aeroporto de Paraguaçu, onde eu ficava estudando, o avião de Marília passou aqui e o piloto me viu estudando e me perguntou como eu estava de teoria e eu disse que era bom, porque eu estudava muito, aí ele me convidou para ir ao aeroclube para dar instrução teórica. Eu voltei para casa, arrumei a minha mala e fui para Marília no mesmo dia. Chegando lá, montamos um curso teórico e eu fiquei como instrutor de teoria em Marília por quase um ano, aí depois eu passei a ser instrutor de vôo”, contou o piloto aposentado.

José Gilberto foi contratado para ser co-piloto da aeronave de uma empresa. Um ano após, ingressou à função de piloto, mas ainda permaneceu sendo instrutor no aeroclube de Marília.
“Passaram-se dois anos e meio e empresa vendeu os aviões. Fiquei em Marília fazendo vôos freelancers. Fui voar na Cooperativa dos Cafeicultores de Garça”, disse o paraguaçuense.

Apensas dois meses como piloto na cooperativa, ele teve um grande convite, que o levou para uma companhia aérea, a antiga TAM, hoje Latam.

“Aí começou a grande virada na minha vida. Um senhor amigo meu me ligou e me pediu para ir para São Paulo, pois estava começando o curso pra co-piloto para Fokker27 para eu voar para uma companhia aérea. Eu agradeci e falei que não tinha interesse. Ele me falou que ele não tinha perguntado se eu queria ir, pois ele não me queria em Marília, pois eu era piloto para voar em companhia aérea. Então, eu fui. Cheguei em São Paulo e fui contratado. Aí eu entrei em uma companhia aérea. Ali começou uma nova fase, pois eu voltei a ser co-piloto”, explicou José Gilberto.

Contratado pela TAM no dia 14 de agosto de 1989, pouco tempo depois Gilberto ingressou no projeto Fokker 100, onde foi designado a ser co-piloto.

Ele encerrou a sua carreira sendo piloto de um Boeing 77-300 ER, com capacidade para 500 passageiros — Foto: Arquivo Pessoal

“Eu e minha turma já conseguimos começar voando no avião que era top de linha. Foi a minha primeira viagem internacional como passageiro. Fiz o meu curso na Holanda de 40 dias, voltei, fiquei dois anos e pouquinho como co-piloto, aí fui comandando de Fokker 27, aí de novo foi nova fase: estudar, ser aplicado, ser disciplinado e fazer tudo direito. A empresa foi crescendo e cheguei a piloto de Boeing 777”, disse.

De acordo com José Gilberto, o Boeing que ele pilotou tem a capacidade para 500 pessoas, incluindo tripulação, sendo considerado, atualmente, o maior avião bimotor de passageiros do mundo.

31 anos depois de ingressar na TAM, José Gilberto usou o seu uniforme e o seu quepe pela última vez, no seu vôo de despedida, que aconteceu no dia 08 de agosto, de Guarulhos para Londres.

O vôo de despedida contou com a presença da sua filha — Foto: Arquivo Pessoal
José Gilberto com parte da tripulação que realizou o seu último vôo — Foto: Arquivo Pessoal

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